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A precária e cara banda larga brasileira

O serviço de banda larga no Brasil, tecnicamente chamado de ADSL, é um verdadeiro vexame nacional: lento, caro e instável. Para completar, a cobertura é insuficiente, sobretudo em zonas rurais e cidades menores, onde a exclusão digital se transforma em regra. Enquanto o mundo já desfruta do ADSL2+ com velocidades de até 20 Mbps e começa a migrar para a fibra óptica, nós nos arrastamos em conexões que variam entre 256 kbps e 2 Mbps, quando, por sorte, estão disponíveis. É como vender carroça a preço de Ferrari.  

O absurdo não para na limitação técnica. As operadoras cobram tarifas escandalosas por serviços que mal se sustentam.  

Exemplo gritante:

A Oi oferece o Velox de 300 kbps por R$ 72,90 mensais. Já no Reino Unido, por R$ 57,08, o usuário tem acesso a 20 Mbps ilimitados, com modem gratuito e sem contratos de fidelidade. A diferença é tão grotesca que chega a ser ofensiva: baixar um arquivo de 5 MB aqui leva 2 minutos e meio; lá, apenas 2 segundos. É a diferença entre esperar o ônibus quebrado na esquina e embarcar num trem-bala.  

A banda larga não é luxo, é necessidade. Ela facilita a vida: pagar contas, marcar consultas, verificar serviços, comparar preços. Economiza tempo, dinheiro e paciência, tornando a sociedade mais dinâmica e organizada. Mas no Brasil, em 2009, essa promessa é sabotada por uma infraestrutura medíocre e por operadoras que tratam o consumidor como refém.  

O governo até disponibiliza serviços online, mas esquece que seus próprios sites são lentos e mal estruturados. O resultado é um “funil digital”: mesmo quem tem uma conexão razoável se frustra ao enfrentar servidores que parecem rodar em máquinas da década de 90. O cidadão tenta exercer sua cidadania digital e acaba preso em páginas que não carregam.  

E a Anatel? A agência reguladora, que deveria defender o consumidor, parece mais preocupada em proteger os interesses das operadoras. Deveria investigar os preços abusivos, exigir qualidade, promover a universalização da banda larga e cobrar a substituição da tecnologia obsoleta. Se não fizer isso, ficaremos condenados a assistir o mundo avançar enquanto continuamos atolados em conexões que mal dão conta de abrir uma página simples.  


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