Em meio a décadas de hostilidade aberta, sabotagens, tentativas de assassinato atribuídas à CIA e a um embargo econômico implacável, Fidel Castro atravessou meio século desafiando a maior potência do planeta. Tirano ou não, rótulo que depende menos dos fatos e mais do observador, seu legado histórico não pode ser descartado com slogans fáceis.
Em uma ilha de solo pobre, sem grandes recursos minerais e submetida a um cerco econômico severo, a Revolução Cubana conseguiu produzir indicadores sociais que desafiam a lógica dominante. Alimentou os famintos, eliminou a desnutrição infantil e erradicou o analfabetismo. Transformou Cuba no país com uma das menores taxas de mortalidade infantil das Américas e construiu sistemas de saúde e educação públicas que se tornaram referência internacional, inclusive para nações muito mais ricas.
Nada disso apaga os autoritarismos, os silêncios impostos ou as contradições internas do regime. Mas tampouco autoriza ignorar o fato de que, sob Fidel, Cuba se tornou um experimento histórico incômodo, uma prova viva de que a miséria não é destino inevitável, mas escolha política.
Fidel foi, acima de tudo, uma chama acesa no cenário global, um aviso permanente ao capitalismo voraz. Sua existência política parecia dizer, de forma clara e ameaçadora: ou o sistema passa a priorizar as necessidades reais do cidadão, acima da acumulação irrestrita de capital, ou a revolução, em alguma forma, baterá à sua porta.
Mesmo isolada, a Revolução Cubana irradiou efeitos muito além da ilha. Indiretamente, pressionou governos, inspirou políticas públicas e contribuiu para avanços sociais em diversas partes do mundo, ajudando a empurrar o debate global em direção a uma sociedade menos desigual. Esse talvez seja seu legado mais duradouro: lembrar que a história não é imóvel e que nenhuma ordem social está imune ao questionamento.

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